Dignify (Entrevista)

Reprodução: Festival Palco do Rock, Praia de Piatã, 3 de março de 2025.

Dignify é uma banda baiana que está na estrada para mostrar ao público o que é respirar música de verdade. Formada em Salvador, na Bahia, tem como marca registrada o Heavy Metal, embora mescle elementos vertentes deste mesmo gênero: como o Hard Rock, o Prog e o Melódico. A formação atual se mantém original, compõe Fábio Aruga no vocal, Márcio Messeder na guitarra, Hostil no baixo e Bruno Miranda na bateria. Em março de 2024 lançaram o primeiro single, “Before the Dawn”, seguido de “It’s Not Your Fault” e “Wolf Pack”, lançados em maio e julho, respectivamente. No mesmo ano, em setembro, o EP de estréia, The Forge (Studio) foi lançado. Os três singles já lançados foram adicionados às faixas do EP e se somaram às duas novas que se fazem presente: “Wild Sync - Studio” e “Escape - Studio”.  

Tive a honra de ser recepcionado pelo baterista da banda, o Bruno Miranda, que nos concedeu esta entrevista.

A banda está há um curto período de tempo em atividade, mas é perceptível que pouco a pouco estão conquistando seu merecido espaço. Pude apreciar o show realizado no Palco do Rock na praia de Piatã, no dia 3 de março deste ano e já adianto que foi sensacional. Não conhecia nada a respeito do trabalho de vocês e pude me surpreender. Então, gostaria a princípio de perguntar pra que o público entenda e caso queiram se espelhar em vocês para seguir o mesmo caminho, como é viver de banda?

Bruno Miranda: Primeiro obrigado pelas palavras. A gente fica muito feliz com esse retorno. Porque a verdade é que são anos de dedicação, né? Dedicação individual, em momentos próprios de você estar lá com o instrumento sozinho, abrindo mão de outras atividades. Às vezes abrindo mão de socializar com outras pessoas. Você tem que estar se dedicando ao instrumento para melhorar a sua performance, sua parte técnica, ainda mais no estilo que exige isso, que é o metal. Então depois de anos você tocando, estudando, treinando e isso eu falo não por mim só, falo pelos outros que eu sei que isso é exigido por todos, né? Todo mundo tem que fazer isso, todos da banda. Tanto que depois de muito tempo, a gente junta um trabalho, a gente junta as peças individuais de cada componente do grupo, forma esse trabalho. E aí vem o reconhecimento do público, a gente fica muito feliz. E em segundo lugar, você disse aí, a banda realmente é nova. A gente vai fazer dois anos de formação. Inicialmente priorizamos os registros das músicas, as músicas, na maior parte, foram compostas por Márcio, que é o guitarrista e a gente focou muito, inicialmente, nessa questão de gravação. Primeiro o ensaio, entender a proposta do trabalho, ensaiar e depois disso, cada um acrescenta a sua individualidade ali nos detalhes da execução e dá sugestões de melhoria também e depois registrar, né? Isso a gente fez no processo do primeiro álbum do ano passado, que foi o The Forge, a forja, e fizemos o lançamento das músicas. Esse ano a gente começou a fazer apresentações, a nossa segunda apresentação foi lá no Palco do Rock, ao mesmo tempo que a gente já estava gravando o segundo álbum que se chama The Blade, que seria a lâmina. É um processo de três álbuns: a forja, a lâmina e depois o corte. O corte, vai ser o último álbum. Então nesse momento, a gente já finalizou a gravação do segundo álbum e já mandamos pra mixagem, masterização que é feita por um cara que a gente conhece lá de São Paulo, ele fez o primeiro álbum. Ele se chama Vitor Gaioto. Ele está trabalhando nas músicas e no segundo semestre, a gente vai começar a lançar as músicas do segundo álbum. E ao mesmo tempo, a gente tem feito algumas apresentações em lugares aqui na cena de Salvador. Nossa última apresentação foi lá no Culturama, que foi um evento muito bacana envolvendo música, arte visual, filantropia também, eles arrecadaram cestas básicas. E foi muito positivo, lá na Eco Square, no Rio Vermelho. Se você não conhece ainda, fica a dica aí pra dar uma sacada lá. Agora, respondendo objetivamente a sua pergunta, eu nunca vivi de música. Eu fiz faculdade de Direito e depois me dediquei a fazer concursos, fiz muitos concursos e hoje sou auditor no tribunal de contas. De uns cinco anos pra cá, eu retomei a bateria, eu tinha ficado dez anos parado. Comecei a tocar adolescente, mas parei por conta da fase de estudos. Faculdade, concursos. E de uns cinco anos pra cá eu retornei a tocar. E dois anos atrás, Márcio me convidou pra fazer parte do projeto da Dignify, eu aceitei e estou dedicado aos estudos, voltei aos estudos de batera, comprei alguns cursos. Claro, dependendo da fase, do ano, às vezes demanda de trabalho, demanda de estudos, eu toco menos, mas normalmente tento fazer pelo menos uma hora por dia de estudo da batera. Então a minha fonte de renda não é da música, nunca foi, mas eu levo a música muito a sério, eu tento fazer as coisas da melhor forma, eu me dedico ao estudo e da mesma maneira os outros meninos também não vivem de música, exceto Fábio Aruga. Fábio é cantor profissional. Ele faz muitos eventos de casamento. Márcio é fotógrafo profissional e Bruno, Ivan Bruno, o Hostil, ele é professor de inglês. Então, na verdade, termina que cada um acrescenta as suas vocações pessoais nos projetos da banda. Márcio, ele faz muita coisa de mídia, de imagem e vídeo nos registros dos nossos shows, já que ele é fotógrafo. Ivan, ele faz muitas correções nas letras que são em inglês e Fábio também coloca sua expertise. Ele já tem muitos eventos no currículo, ele faz a parte da montagem de mesa, de mixagem dos nossos shows. Eu já fico na parte mais burocrática de registro das músicas, distribuição. Então, fora do palco também, cada um vai acrescentando e somando no projeto, né? Isso que é bem legal também. Todo mundo contribui com sua especialidade.

A Dignify mescla elementos do Heavy Metal com outros subgêneros. Sendo o Rock um gênero musical pautado em questionamentos, na sua concepção, qual seria a mensagem universal da Dignify para seu público alvo?

Bruno: Muitas composições da Dignify foram produzidas na época da pandemia, um momento difícil para todas pessoas, marcado, principalmente, por perdas. A resiliência e superação são temas que permeiam muitas de nossas letras. Acredito que a nossa mensagem universal está contida no próprio nome. Dignificar (Dignify) é tornar algo valioso, o que quer que seja: a vida, o relacionamento, a própria música, porque muitas vezes só temos uma chance. Por isso também acho que tentamos fazer nosso trabalho com dedicação e excelência, trazendo um rock mais limpo, melódico, com profundidade musical, sem perder o peso, e que possa agradar a todos os públicos que estejam de coração aberto a conhecer o glorioso mundo do metal.

O nome da banda foi ideia de um membro específico ou partiu do conjunto? Quero dizer, houve um consenso já de início ou foi tudo através de uma discussão prolongada?

Bruno: O nome foi uma escolha conjunta, mas não tão prolongada. Surgiram umas três ideias e foi tomada a decisão.

Sobre essas ideias referente aos nomes descartados, poderia citá-las como exemplo?

Bruno: Luan, confesso que só me recordo de uma opção, que era Ignify. Ignição, algo ligado ao fogo.

Quais são as principais referências de outras bandas ou artistas solos para sonoridade do Dignify que você pode citar?

Bruno: Então, Luan, posso falar de minhas referências. Márcio, Fábio e Hostil beberam de outras fontes, e a soma disso tudo compõe a nossa sonoridade atual. Cresci ouvindo música de qualidade em casa, desde o MPB à Música Clássica, passando também pelo rock. Mas acho que na adolescência tive influência de bons amigos, conheci o blues através de Eric Assmar (fomos colegas de escola por anos), e naquela época também tivemos o auge do New Metal (Linkin Park, Incubus e afins). Como bom noventista, ouvi Nirvana, Pearl Jam, Raimundos. Dos clássicos: Led Zeppelin, Deep Purple, Pink Floyd. Era viciado no Rock Progressivo do Rush. No Blues adorava um Power Trio chamado Gov’t Mule. Na MPB gostava muito de Djavan e João Bosco. O detalhe é que muitos desses artistas sempre foram acompanhados por excelentes bateristas.

Há algum ritual, uma meta que vocês tenham ambicionado de manter a atividade entre o público brasileiro ou planejam ir além, buscando um alcance gradativamente maior no exterior, como o Sepultura, o Angra e a Nervosa fizeram? A finalidade desta pergunta, tem relação com o fato de que muitas bandas do metal nacional infelizmente não conseguem o suporte do público brasileiro e com isso, vão pro exterior em busca de alcance, se mantêm batalhando pelo reconhecimento no circuito underground nacional ou pior, desistem de seus sonhos por desmotivação como consequência da falta de oportunidades.

Bruno: Sim, Luan. Você foi bem assertivo aí nesse seu comentário e planejamos com certeza ir pro exterior, é um sonho. Conhecer novos lugares, culturas, pessoas através da música, certamente é um sonho. E a gente tem uma banda conterrânea (daqui de Salvador) que eles estão realizando esse sonho agora, não sei se você sabe. AuroControl está saindo em turnê agora pelo Brasil. Uma turnê conjunta com Edu Falaschi e Tiago Bianchi também. E estão fazendo uns posts aí. O som dos caras é muito bacana, um som de Power Metal muito bom, muita qualidade. Então fica a dica aí também pra você acompanhar eles.

Interessante essa sua perspectiva de buscar conhecer além do que está ao seu alcance. Eu não conhecia essa banda que você citou, mas vou pesquisar posteriormente. Obrigado pela dica. Que bacana saber dessa turnê que estão realizando. Esta é a prova de que há envolvidos na cena que estão dispostos a espalhar a nossa cultura pro público brasileiro, que geralmente se restringem ao mesmo ritmo musical, como o funk, o trap e o sertanejo. Não que isso seja um problema, mas vejo que uma parte do público não tem a mente tão aberta para explorar além do horizonte. E não falo de buscar conhecer apenas o rock em si, mas também por outros gêneros além do convencional, como a ópera, por exemplo. Acredito que isso seja uma das razões pelas quais o rock não seja tão popular no Brasil em comparação aos outros gêneros que pontuei, embora haja fãs fervorosos do Norte ao Sul do país. E já emendando um pouco da reflexão acerca da pergunta anterior, pra você, o rock morreu?

Bruno: Luan, na minha opinião, o rock não morreu. Acontece que o rock hoje não está mais no mainstream. Na época das grandes gravadoras e emissoras de tv aberta, o público era uma audiência passiva. Assistia ao que os produtores escolhiam. Ouvíamos o que nossos pais ouviam na TV. E o que aparecia na TV eram as bandas contratadas pelas grandes gravadoras, que tinham dinheiro para pagar o conhecido “jabá”. Hoje tudo mudou. Qualquer pessoa tem acesso a equipamentos e programas de gravação. Qualquer pessoa pode gravar seu fonograma e lançar gratuitamente nas plataformas digitais. Resultado, por dia hoje são lançadas mais de 100 mil músicas no Spotify. Qual a consequência? A audiência não está mais concentrada naquilo que poucos produtores querem que seja ouvido. A audiência está espalhada por inúmeros estilos, gêneros. Ninguém se importa mais no que toca no programa de domingo de tarde. O sucesso está na música de 30 segundos de alguma trend que bombou. O rock não acompanhou isso. E muitos outros estilos também não. E em nível nacional existe outro agravante: o sertanejo. Inegavelmente é o estilo que mais paga bem hoje. Consequência de qualquer mercado: os melhores profissionais (músicos, arranjadores, produtores) estão no sertanejo, que é o gênero que melhor remunera. Mas o rock não morreu porque ainda existe muita coisa boa sendo produzida. Eu particularmente gosto do prog metal. E deixo aqui uma indicação de banda que deveria ser mais reconhecida pela qualidade sonora e técnica: Tesseract. Ouçam Tesseract!

Excelente reflexão. Agora eu vou pedir pra você citar três discos recomendados para o público ao estilo do Dignify. Pode ser tanto nacional quanto internacional.

Bruno: Nightmare - Avenged Sevenfold;
Long Day Good Night - Fated Warning;
The Sin and the Sentence - Trivium

Para finalizar, fale um pouco mais sobre o que os fãs devem esperar a respeito do próximo lançamento da Dignify e quais são as suas expectativas com relação a recepção do novo álbum que está por vir?

Bruno: Então, sobre o The Blade, que está no forno, sob os últimos ajustes de mixagem para posterior lançamento, nossos ouvintes podem esperar um álbum mais maduro, com a presença de novos elementos musicais. A exemplo de pitadas de estilos como reggae em Souls Don’t Discriminate, e padrões arabescos em Black Crows, além participações especiais de violino, por Gustavo Dantas, e vocais de Lucas De Ouro (Aurocontrol). Enfim, teremos muito peso somado com a criatividade e a musicalidade que o metal merece para se manter renovado, atual e Dignificado!

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Abaixo estão alguns registros fotográficos do Festival Palco do Rock 2025. Estão presentes a banda Dignify, eu e alguns amigos no centro:

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Acompanhem a banda nas seguintes plataformas:

• Spotify: Dignify 
• YouTube: @Dignifyrock
• Instagram: @dignify.official

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