Black Sabbath Back To The Beginning: Minha retrospectiva
© Foto: Ross Halfin
Três dias atrás acompanhei o fim de uma jornada. Fomos a última geração a ver o Black Sabbath subir ao palco. Foi interessante ver os fãs de diversos cantos do mundo se reunirem para apreciar a despedida da banda pioneira do heavy metal. Ver o carinho de fãs ao redor do mundo, músicos e entusiastas, compartilhados em pequenos vídeos e dedicados ao Ozzy, Tony, Geezer e Bill, citando os quatro como suas maiores influências ou reconhecendo o legado que deixaram pro cenário do metal e da música de modo geral, foi impactante. Em especial aos fãs brasileiros, que deixaram um pedaço da gente marcado em diversos vídeos que foram partilhados tanto nas homenagens de suas casas quanto na platéia. Não querendo ser exibido, mas a bandeira do Brasil apareceu diversas vezes durante o festival, grande orgulho. Back to the Beginning foi um verdadeiro “Woodstock do metal” com o pequeno ponto diferencial sendo o contexto do evento, mas possui a dinâmica que torna ambos mais próximos de semelhantes; o marco histórico na música. O festival além de ter marcado a despedida da formação original do Black Sabbath e da carreira solo de Ozzy Osbourne, foi também um evento beneficente. Todo o lucro foi destinado a três instituições de caridade: Cure Parkinson's, Birmingham Children's Hospital e Acorn Children's Hospice.
Mastodon
Troy Sanders (baixo e vocal), Nick Johnston (guitarra), Bill Kelliher (guitarra), Brann Dailor (bateria)
Setlists — Back to the Beginning
1. Black Tongue
2. Blood and Thunder
3. Supernaut (cover do Black Sabbath com participações de: Danny Carey, Eloy Casagrande e Mario Duplantier)
Mastodon abriu a maratona do festival. Foi uma das participações que mais estive entusiasmado para acompanhar. “Black Tongue” é um de seus lançamentos mais “recentes” e foi uma bela performance. “Blood and Thunder” foi a primeira música que ouvi da banda, o que atraiu ainda mais os meus olhos e ouvidos. A banda tocou o primeiro cover do dia, a faixa “Supernault” do álbum Volume 4 do Black Sabbath, com três participações especiais e dentre elas, o nosso queridíssimo Eloy Casagrande. Por falar nisso, já adianto que fez falta a presença de algumas bandas brasileiras como o Sepultura ou a Nervosa em um evento de grande magnitude como este. Uma lástima, mas ainda assim, tudo foi incrível. Essa última performance em especial foi muito bem harmoniosa e fechou com chave de ouro no estilo mais brasuca possível.
© Foto: Errick Easterday
Eloy bem alí atrás de Mario Duplantier, escondido, mas te notamos!
© Foto: Igor Miranda
Rival Sons
Jay Buchanan (vocal), Scott Holiday (guitarra), Dave Beste (baixo), Mike Miley (bateria)
Setlists — Back to the Beginning
1. Do Your Worst
2. Electric Funeral (cover do Black Sabbath)
3. Secret
Confesso que não sabia nada a respeito da banda, foi uma grande surpresa pra mim. É tão bom ver as novas gerações entregando tudo de si para manter as chamas do rock acesas. Rival Sons é uma delas. A parte instrumental é muito visceral, eles exploram uma sonoridade bem consistente e ao mesmo tempo bastante diversificada; do rock clássico setentista as raízes do blues. O vocalista manda muito bem em suas técnicas, eu não sei se o mesmo é fã de Led Zeppelin, mas a sua semelhança com o Robert Plant é surreal. Digo isso não só pela voz, mas também pela estética. Como havia citado, não sabia nada sobre a banda. Então pude apreciar em primeira mão, a apresentação que serviu também como divulgação para aqueles que não os conheciam, assim como eu. As músicas “Do Your Worst” e “Secret” foram muito bem executadas, destaque para esta última que citei. O cover da vez foi a faixa “Electric Funeral”, do álbum Paranoid. Foi a segunda de três apresentações que Rival Sons realizou neste evento. A interpretação é bem similar ao original, não possui tanta distinção, o que não é um problema, embora eles poderiam explorar a essência da banda neste som.
© Foto: Mernie Paidoff / @t_vartiainen
Anthrax
Joey Belladonna (vocalista), Scott Ian (guitarra), Jon Donais (guitarra), Charlie Benante (bateria) Frank Bello (baixo)
Setlists — Back to the Beginning
1. Indians
2. Into the Void (cover do Black Sabbath)
Estou sem palavras para a apresentação do Anthrax. A qualidade, constância e persistência foram consequência deste espetáculo. Qualquer coisa vinda dessa banda não poderia ser diferente senão positiva. A música “Indians” foi apresentada com um peso tão grande quanto a faixa do álbum Among The Living. O cover de “Into the Void”, faixa do álbum Master of Reality, foi sensacional. Moveram a platéia de um jeito que só vendo pra sentir na pele essa experiência. Foi incrível, foi brutal.
© Foto: Andy Buchanan / AFP
Halestorm
Lzzy Hale (vocal e guitarra), Joe Hottinger (guitarra), Josh Smith (baixo), Arejay Hale (bateria)
Setlists — Back to the Beginning
1. Love Bites (So Do I)
2. Rain Your Blood on Me
3. Perry Mason (cover do Ozzy Osbourne)
Outra banda que me surpreendeu foi Halestorm. Já conheço há algum tempo, embora não tenha escutado mais do que duas músicas no modo aleatório. A vocalista é atitude e presença, deu o melhor de si em cada performance. Ela cantou com tanta vontade, com êxito, com primor, que chega fiquei arrepiado. Não que eu esteja querendo diminuir o restante da banda, pois sem o conjunto, o impacto poderia ter sido diferente. Acredito que Halestorm tenha sido uma das melhores apresentações entre todos os convidados. Nunca ouvi as músicas “Love Bites (So Do I)” e “Rain Your Blood on Me” antes deste momento, foi a primeira chance que dei e não me arrependo. A última música que citei estará no próximo álbum da banda, intitulado Everest, que será lançado em 8 de agosto deste ano. Para finalizar essa parte da maratona, tocaram um cover sensacional do Ozzy, a música “Perry Mason” do álbum Ozzmosis. Duvido que tenham acertado em suas apostas que esse seria o cover apresentado pela banda.
© Foto: Alison Northway
Lamb of God
Randy Blythe (vocal), Mark Morton (guitarra), Willie Adler (guitarra), John Campbell (baixo), Art Cruz (bateria)
Setlists — Back to the Beginning
1. Laid to Rest
2. Redneck
3. Children of the Grave (cover do Black Sabbath)
Fiquei arrepiado quando “Laid to Rest” tocou, pois foi a primeira música da banda que eu ouvi na minha vida. A maratona do Lamb of God foi seguida de “Redneck”, outro sonzão, e finalizou com o cover espetacular de “Children of the Grave”, do álbum Master of Reality.
© Foto: Bryce Hall
Supergroup A (Tom Morello's All Stars)
Lzzy Hale (vocal), Jake E. Lee (guitarra), Nuno Bettencourt (guitarra), David Ellefson (baixo), Mike Bordin (bateria), Adam Wakeman (teclado)
Setlists — Back to the Beginning
1. The Ultimate Sin (cover do Ozzy Osbourne)
A primeira formação do supergrupo surpreendeu a todos com a performance fantástica de “The Ultimate Sin” na voz da Lzzy Hale, a vocalista do Halestorm, que se apresentou com a sua banda há pouco tempo atrás.
© Foto: まどか▶アーライ🤘 / @affection23
David Draiman (vocal), Jake E. Lee (vocal), Nuno Bettencourt (guitarra), David Ellefson (baixo), Mike Bordin (bateria), Adam Wakeman (teclado)
Setlists — Back to the Beginning
2. Shot in the Dark (cover do Ozzy Osbourne)
3. Sweet Leaf (cover do Black Sabbath)
A maratona seguiu com o supergrupo, desta vez com David Draiman no vocal. Nunca mais ouvi Disturbed. Quando ouvi o David cantando, me deu vontade de procurar novamente a banda. Baita performance de “Shot in the Dark”. Em seguida, fizeram um cover da faixa do álbum Master of Reality, “Sweet Leaf”, uma das minhas favoritas do Black Sabbath e é simplesmente um dos sons que definiu o doom metal.
© Foto: まどか▶アーライ🤘 / @affection23
Whitfield Crane (vocal), Scott Ian (guitarra), Nuno Bettencourt (guitarra), Frank Bello (baixo), Adam Wakeman (teclado), ii (bateria)
Setlists — Back to the Beginning
4. Believer (cover do Ozzy Osbourne)
E novamente um espetáculo com o cover da música “Believer” do Ozzy. Só tinha fera nesse palco. Foi cada convidado ilustre que fica difícil citar os momentos em que cada um apareceu e não se encantar, fora as apresentações.
© Foto: まどか▶アーライ🤘 / @affection23
YUNGBLUD (vocal), Scott Ian (guitarra), Nuno Bettencourt (guitarra), Frank Bello (baixo), Adam Wakeman (teclado), ii (bateria)
Setlists — Back to the Beginning
5. Changes (cover do Black Sabbath)
Esse foi emocionante. Nunca ouvi falar de YUNGBLUD até o momento da sua apresentação, mas esse cara cantou com a alma. Foi nítido toda a sua entrega para esta performance. Há bastante tempo que não ouvia “Changes”, esse cara me fez cantar junto. A cantoria foi tão boa que começou a chover aqui na minha cidade, ao contrário de Birmingham que estava um dia ensolarado. E choveu bastante por sinal. Foi lindo este cover, acho que foi um dos melhores.
© Foto: Kazuyo Horie
Jack Black (vocal), Revel Ian (baixo), Roman Morello (guitarra), Yoyoka Soma (bateria), Hugo Weiss (teclado)
Setlists — Back to the Beginning
6. Mr. Crowley (cover do Ozzy Osbourne)
Passou um vídeo dentro da transmissão ao vivo, que apresentava o cover de um clássico do Ozzy, “Mr. Crowley”. Jack Black é conhecido por seus trabalhos de atuação e também de dublagem. Um trabalho dele que acho bem interessante é o filme School of Rock. Fica a recomendação. Bem, no vídeo ele está cantando “Mr. Crowley” com jovens músicos que não conhecia. Mas é perceptível o trabalho bem pensado e muito bem produzido. O visual de Jack no vídeo era semelhante ao de Ozzy no Black Sabbath, na fase do álbum Volume 4, ele interpretou o artista nos seus trejeitos, pulando, batendo palmas, fazendo caretas. Não sei nem como elogiar essa performance, eu adorei de verdade. Me lembrou muito o videoclipe de “Snowblind”, no qual Ozzy está em um show com o Black Sabbath, e ele fica interagindo com o público e com o próprio Tony Iommi, enquanto o mesmo tira nota por nota de um de seus mais marcantes riffs de guitarra. É um sentimento de nostalgia pela fidelidade. A sonoridade também é algo que, claro, vale ser destacado. O homem cantou como se fosse o próprio Ozzy, a escala da sua voz estava tão próxima do Ozzy no seu auge, na década de 70.
© Foto: Rock Photography / @Photomusicrock
Alice In Chains
Jerry Cantrell (guitarra e vocal), William DuVall (vocal), Mike Inez (baixo), Sean Kinney (bateria)
Setlists — Back to the Beginning
1. Man in the Box
2. Would?
3. Fairies Wear Boots (cover do Black Sabbath)
Essa foi uma das participações mais esperadas por mim. Sou muito fã de Alice In Chains e cantei junto as músicas, não tinha como não cantar os clássicos da banda. Foi lindo ver a formação atual unida, em especial aos dois integrantes da formação original; Cantrell e Kinney. Uma pequena observação, não sei se incomodou outras pessoas, mas pra mim, o Jerry foi sacaneado pelo engenheiro de som, nos momentos em que estava fazendo dueto com DuVall, ou foi alguma falha na transmissão, pois o microfone dele estava muito baixo. Aquilo me incomodou um pouco. Mas fora isso, foi um show sensacional. Não poderia esperar o contrário disso.
© Foto: Sergie Code / @sergiecode
Gojira
Joe Duplantier (vocal e guitarra), Mario Duplantier (bateria), Christian Andreu (guitarra), Jean-Michel Labadie (baixo)
Setlists — Back to the Beginning
1. Stranded
2. Silvera
3. Mea culpa (Ah! Ça ira!) (com participação de Marina Viotti)
4. Under the Sun (cover do Black Sabbath)
Esperei por “Amazonia”, a minha música favorita do Gojira. Infelizmente não rolou, mas a performance da banda foi indispensável com o repertório do setlist.
© Foto: Errick Easterday
Drum Off
Chad Smith (bateria), Travis Barker (bateria), Danny Carey (bateria), Tom Morello (guitarra), Nuno Bettencourt (guitarra), Rudy Sarzo (baixo)
Setlists — Back to the Beginning
1. Symptom Of The Universe (cover do Black Sabbath)
Disputa acirrada de bateria, ou melhor, de três baterias. A apresentação foi show de bola. Pros entusiastas das banquetas, essa performance foi um prato cheio. Curti demais. A faixa do álbum Sabotage, “Symptom Of The Universe”, foi a escolha mais assertiva para um cover como esse. Sério, eu não consigo acreditar no que vi. Isso foi épico.
© Foto: Witas Concert Vids / @witasbdg
Supergroup B (Tom Morello's All Stars)
Billy Corgan (vocal), Tom Morello (guitarra), KK Downing (guitarra), Adam Jones (guitarra), Rudy Sarzo (baixo), Danny Carey (bateria)
Setlists — Back to the Beginning
1. Breaking the Law (cover do Judas Priest)
2. Snowblind (cover do Black Sabbath)
Essa performance foi incrível. Destaque pro cover da música “Snowblind”, onde Tom Morello fez o solo de guitarra com a boca no estilo Jimi Hendrix.
© Foto: まどか▶アーライ🤘 / @afeto23
Sammy Hagar (vocal), Nuno Bettencourt (guitarra), Adam Wakeman (teclado), Rudy Sarzo (baixo), Chad Smith (bateria), Vernon Reid (guitarra)
Setlists — Back to the Beginning
3. Flying High Again (cover do Ozzy Osbourne)
4. Rock Candy (cover do Montrose)
Muito legal os dois covers que essa formação especial adicionou em seu setlist. Foi bem interessante.
© Foto: Summer Glen / @summerglen
Papa V Perpetua (vocal), Vernon Reid (guitarra), Nuno Bettencourt (guitarra), Adam Wakeman (teclado), Rudy Sarzo (baixo), Travis Barker (bateria)
Setlists — Back to the Beginning
5. Bark at the Moon (cover do Ozzy Osbourne)
Essa apresentação com o vocalista do Ghost foi arrasadora. Eles resgataram uma das músicas mais “leves” da carreira solo do Ozzy no sentido técnico. Foi um som gostosinho de ouvir.
© Foto: @bulgarian_ghost_collector
Steven Tyler (vocal), Nuno Bettencourt (guitarra), Tom Morello (guitarra), Andrew Watt (guitarra), Rudy Sarzo (baixo), Chad Smith (bateria)
Setlists — Back to the Beginning
6. The Train Kept A-Rollin' (cover do Tiny Bradshaw)
7. Walk this Way (cover do Aerosmith)
8. Whole Lotta Love (cover do Led Zeppelin)
Steven Tyler continua cantando impecavelmente. Indiscutivelmente um dos maiores frontmans da história da música. Três apresentações foram seguidas uma melhor do que a outra, destaque aqui para “Whole Lotta Love”, uma das músicas da vida que foi brilhantemente interpretada por esses ilustres convidados de peso.
© Foto: Ross Halfin
Pantera
Phil Anselmo (vocalista), Rex Brown (baixo), Zakk Wylde (guitarra), Charlie Benante (bateria)
Setlists — Back to the Beginning
1. Cowboys From Hell
2. Walk
3. Planet Caravan (cover do Black Sabbath)
4. Electric Funeral (cover do Black Sabbath)
Embora não esteja mais naquele pique dos anos 90, já que se passaram 30 anos e é claro, eles não são mais novos como antigamente, o Pantera ainda assim entregou o melhor de si em cada performance. Sei que essa questão é indiscutível, mas sabemos que ninguém vai superar os saudosos irmãos Abbott da formação clássica, mas Zakk Wylde e Charlie Benante cumpriram seus respectivos papéis com maestria. Fizeram até uma pequena homenagem a Dimebag e Vinnie Paul nos dois bumbos da bateria de Benante, para marcar e celebrar o legado dos irmãos que eternizaram a sua presença neste plano, ao lado de Anselmo e Brown. O destaque aqui vai para o cover da música “Planet Caravan”, do álbum Paranoid. Aquilo foi bonito demais.
© Foto: Metal Dave Media
Tool
Maynard James Keenan (vocal), Adam Jones (guitarra), Justin Chancellor (baixo), Danny Carey (bateria)
Setlists — Back to the Beginning
1. Forty Six & 2
2. Hand of Doom (cover do Black Sabbath)
3. Ænema
Costumo considerar mentalmente o Tool como sendo o Pink Floyd moderno, só que mais “pesado”. Eles exploram uma atmosfera com tamanha complexidade que te faz viajar no bom sentido da palavra. Gosto muito de sons experimentais como esse e tiro o meu chapéu pra discografia desta banda. Setlist maravilhoso que foi apresentado aqui, só pedrada, grandes clássicos.
© Foto: notreble / @notreble
Slayer
Tom Araya (baixo e vocal), Paul Bostaph (bateria), Kerry King (guitarra), Gary Holt (guitarra)
Setlists — Back to the Beginning
1. Disciple
2. War Ensemble
3. Wicked World (cover do Black Sabbath)
4. South of Heaven
5. Raining Blood
5. Angel of Death
Se há uma banda que eu amo de paixão, essa banda é o Slayer. Não tenho nem palavras pra descrever o espetáculo que foi a apresentação deles. Não poderia me decepcionar com esses caras, e não me decepcionei.
© Foto: Ross Halfin
Guns N' Roses
Axl Rose (vocal), Duff McKagan (baixo), Slash (guitarra), Dizzy Reed (teclado), Richard Fortus (guitarra), Melissa Reese (sintetizador), Isaac Carpenter (bateria)
Setlists — Back to the Beginning
1. Never Say Die (cover do Black Sabbath)
2. Junior's Eyes (cover do Black Sabbath)
3. Sabbath Bloody Sabbath (cover do Black Sabbath)
4. Welcome to the Jungle
5. Paradise City
Melissa Reese e Dizzy Reed não estiveram presentes durante as cinco apresentações do Guns N' Roses nesta maratona. Tinha bastante tempo que não assistia uma performance do Guns. Fiquei sabendo da condição precária do vocal de Axl Rose nos últimos dois ou três meses, quando vi no reels do Instagram, um pequeno trecho de um dos shows mais recentes que o Guns realizou. E o que vi foi tenebroso, risível e ao mesmo tempo decepcionante. Compartilhei o vídeo sabendo que aquilo renderia bastante memes, e como rendeu. Queria acreditar que aquilo era apenas um caso único daquela ocasião específica. E na participação especial da banda no Back To The Beginning, eu pude confirmar com toda certeza essa minha dúvida; aquela voz poderosa de Axl se foi pra sempre. Foi triste ouvir uma apresentação de uma das bandas que mais adorava e torcer pra que acabasse logo. Nem mesmo os esforços de Slash, Duff, Richard e do baterista recém integrado da banda, o Isaac, puderam amenizar a experiência infernal que tive ao ver e ouvir essas cinco apresentações. Nem mesmo o cover de “Sabbath Bloody Sabbath” que eles fizeram, que é uma das minhas músicas favoritas do Black Sabbath, conseguiu amenizar. E eu entendo que Axl não teria aquela voz cheia de expressão dos anos 80 pra sempre, mas poderia ter cuidado melhor das pregas vocais, atrofiou pra caramba. Lamentável. Steven Tyler também passou dos cinquenta anos e ainda canta perfeitamente. Mas isso é apenas uma opinião pessoal e sincera, assim como de todas as bandas anteriores presentes no festival que avaliei.
© Foto: BLABBERMOUTH.NET / @BLABBERMOUTHNET
Metallica
James Hetfield (vocal), Kirk Hammett (guitarra), Robert Trujillo (baixo), Lars Ulrich (bateria)
Setlists — Back to the Beginning
1. Hole in the Sky (cover do Black Sabbath)
2. Creeping Death
3. For Whom the Bell Tolls
4. Johnny Blade (cover do Black Sabbath)
5. Battery
6. Master of Puppets
O Metallica estava cheio de gás, tocando com toda potência elevada ao máximo e mostrando a todos que os integrantes podem estar mais velhos, mas que o poder de impacto do metal não fragilizou não. Foi muito surreal o quão rápido eles ainda conseguiam tocar, e veja que estou me referindo a uma banda que trabalha com notas e escalas bastante complexas. Um momento engraçado foi ainda durante a transmissão, em que os internautas estavam fazendo piadas, dizendo que a Sharon colocou pressão na banda pro Ozzy se apresentar logo. Na minha humilde concepção, esse show foi épico.
© Foto: Brett Murray
Ozzy Osbourne
Ozzy Osbourne (vocal), Zakk Wylde (guitarra), Mike Inez (baixo), Adam Wakeman (teclado), Tommy Clufetos (bateria)
Setlists — Back to the Beginning
1. I Don't Know
2. Mr. Crowley
3. Suicide Solution
4. Mama, I'm Coming Home
5. Crazy Train
E chegou o grande momento. Foi dito em algum lugar, não me recordo bem, que Ozzy cantaria menos de três músicas. O homem mesmo alcançando a velhice, mesmo estando afetado pelas limitações, pela doença de parkinson, mesmo não conseguindo mais andar, cantou cinco músicas do seu repertório e conseguiu emocionar o público tanto da platéia quanto de casa, que acompanhou esse momento a milhares e milhares de quilômetros de distância de Birmingham. E ele cantou de verdade, mesmo estando na sua atual condição. Foi encantador, foi lindo, foi emocionante. Não vou mentir, admito que derramei algumas lágrimas ao assistir os seus esforços para entregar o melhor de si uma última vez. Que legado maravilhoso este homem deixou pro mundo.
© Foto: Ross Halfin
Black Sabbath
Ozzy Osbourne (vocal), Tony Iommi (guitarra), Geezer Butler (baixo), Bill Ward (bateria)
Setlists — Back to the Beginning
1. War Pigs
2. N.I.B.
3. Iron Man
4. Paranoid
“Black Sabbath” estava nas minhas apostas de que seria a última música apresentada pela banda, pois acreditava que com essa escolha estariam fechando um ciclo, já que toda essa trajetória se iniciou a partir dela. Me enganei e não me decepcionei por isso. Pelo contrário. Foi lindo assistir esse momento histórico da despedida de uma banda que é pioneira do heavy metal, influência para muitas bandas do gênero e que sem as suas contribuições, o metal não teria o mesmo impacto. A proposta deste evento desde o começo, era fechar definitivamente a saga da banda com os quatro membros originais presentes, o que não havia ocorrido durante a turnê (The End Tour) que foi realizada entre 2016 e 2017 sem o baterista Bill Ward. A meta foi então cumprida, executada com sucesso e o resultado disso é as recordações que ficará marcada pelo resto da vida nas memórias de quem acompanhou este momento histórico. Vê-los se apresentando pela última vez me levou pra uma época que nem sequer sonhava em existir. Era 20 de dezembro de 1970 e os quatro estavam em Olympia, um teatro em Paris, tocavam a música “War Pigs” para uma platéia que nem sequer imaginavam estar diante dos “mestres da realidade”. Esse quarteto de Birmingham ainda não morreu, mas ainda em vida se tornaram lendas.
© Foto: @blacksabbath
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